• ACESSIBILIDADE:
  • Aumentar Fonte
  • Tamanho original
  • Diminuir Fonte
  • Contraste
Câmara Municipal de Natal

Trabalhando pelo bem da nossa cidade

Notícia

24/11/2017 Bullying é tema de audiência pública na Câmara de Natal

Para promover o debate e encontrar meios de enfrentar o bullying, principalmente nas escolas, a Câmara Municipal de Natal realizou uma audiência pública sobre o tema nesta sexta-feira (24). De iniciativa da Frente Parlamentar Evangélica, em parceria com a Escola do Legislativo, o encontro contou com a participação de representantes das secretarias de Educação do Estado e do Município, Poder Judiciário, membros de instituições de ensino da rede pública e privada, professores e psicólogos, além da vereadora Carla Dickson (PROS) e dos vereadores Bispo Francisco de Assis (PRB) e Ériko Jácome (PODEMOS). Os presentes comprometeram-se em continuar a discussão, junto às escolas, dos registros e casos da agressão.

Termo de origem inglesa, o bully, valentão, ou bullying, como ficou mundialmente conhecido, se refere ao comportamento agressivo, podendo ser verbal ou físico. Em tempos de crescimento das tentativas de suicídio entre adolescentes, lidar com este problema é um desafio ainda maior para pais e educadores. Mesmo depois da sanção da Lei nº 13.185 que combate a prática vexatória, os apelidos, ofensas, ameaças, intimidações e assédios que configuram o crime continuam presentes no cotidiano dos jovens brasileiros. Dados do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa) 2015 revelam que um a cada dez alunos é alvo frequente das brincadeiras de mau gosto nas escolas. 

"Nesta quarta audiência pública da Frente Parlamentar Evangélica colocamos em destaque mais um assunto sério, muitas vezes confundido com brincadeira de criança. Em tempo: bullying não é uma brincadeira, uma ofensa pontual ou um conflito, vai muito além disso, é violência", explicou a vereadora Carla Dickson, que fez a mediação do debate. "A coisa é séria e cada vez mais queremos abrir espaços para que possamos levar o conhecimento ao maior número de pessoas e sensibilizar a sociedade. Os especialistas alertam que o bullying no ambiente escolar é um dos principais elementos associados ao suicídio", reforçou.

Representando a Secretaria Municipal de Educação, a assistente social Edna Galvão, informou que a instituição incentiva vários projetos que abordam a questão do desenvolvimento cognitivo e emocional dos alunos, para que eles tenham condições de lidar com situações de conflito. "Temos que trabalhar com a perspectiva de uma educação calcada em valores: respeito, solidariedade, responsabilidade e justiça. Por exemplo, desenvolvemos o Programa Justiça Escola, em conjunto com o TJRN, que oferece ações de capacitação com os professores, a fim que enfrentem este e outros desafios", disse a diretora do Departamento de Atenção ao Educando da SME.

João Maria Mendonça, da Secretaria de Educação do Estado, falou que sempre há uma intenção pelo agressor, que é de deixar a vítima intimidada e "pra baixo", além das ações violentas acontecerem por um longo período de tempo, repetidas vezes. "Neste cenário a família entra como uma entidade de grande relevância no controle do comportamento do filho, já que ela é a base educacional do sujeito. Os pais precisam criar espaços de diálogo, pois é através da conversa que solucionamos muitos problemas. Sendo assim, nunca se deve mandar o filho "responder com a mesma moeda", ou seja, não se resolve violência com mais violência". 

Casos de bullying no ambiente escolar são mais comuns do que se pensa. De acordo com dados da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE), 7,4% dos 2,6 milhões de estudantes que cursaram o 9º ano do ensino fundamental em 2015 - algo em torno de 195 mil alunos - afirmaram ter sofrido bullying por parte dos colegas. Entre os que se sentiram humilhados, os principais motivos de chacota foram a aparência do corpo (15,6%) e do rosto (10,9%). O índice de alunos que admitiram já ter chantageado o colega, espalhado boatos ou criado apelidos pejorativos consegue ser ainda maior: 19,8% - ou 520 mil estudantes. Desses, 24,2% são meninos e 15,6%, meninas.

Segundo o professor José Arnóbio de Araújo, diretor-geral do Campus Natal Central do IFRN, pessoas que seguem qualquer padrão considerado pela maioria das pessoas como desviante, seja a roupa diferente, o peso, o cabelo ou a orientação de gênero, são hostilizadas continuamente e entram em sofrimento psíquico. "Ora, devemos aprender a viver numa sociedade, que é formada por indivíduos que apresentam diferenças étnicas, físicas, de toda ordem, e temos que aprender a conviver com o diferente. Além disso, é muita cobrança por competitividade, resultados, sucesso... Portanto, estamos diante de um fenômeno complicado, reflexo de um contexto social".

Dulcinéia Costa, titular da Delegacia Especializada de Defesa à Criança e ao Adolescente (DCA), lembrou alguns casos de bullying ocorridos em seu tempo de estudante, inclusive contra ela própria, e chamou a atenção para a violência virtual. "No campo virtual, depreciar, incitar a violência, adulterar fotos e dados pessoais com o intuito de criar meios de constrangimento psicossocial configuram o "cyberbullying". Dito isso, acredito que os pais devem monitorar de perto o que acontece no mundo virtual dos filhos, que precisam de uma educação sobre como se comportarem numa sociedade inevitavelmente mais tecnológica. Os professores também têm um importante papel nisso", defendeu.


Texto: Junior Martins
Fotos: Marcelo Barroso